Por que você gostaria de trabalhar aqui?

Por que você gostaria de trabalhar aqui?

Empregos são como casamentos. Antigamente era comum a a clássica frase “Até que a morte nos separe”. E isso realmente valia para casamentos e para empresas. Acredito que, se você, assim como eu, está na casa dos 40 anos de idade ou mais, você conhece alguém que começou a trabalhar em uma empresa e trabalhou nela até se aposentar. Assim como conhece pessoas que passaram a vida toda casadas com uma só pessoa e só se separaram quando a outra faleceu.

Isso não quer dizer que antigamente era melhor que hoje, muito menos que as relações duravam mais. Assim como muitos desses casais passaram por muitas barras como agressões, traições, filhos, crises financeiras, problemas com os filhos… esses funcionários também enfrentaram muitas crises dentro da empresa, finais de semana trabalhados, viagens com longos períodos longe da família, burnout, e vários outros infortúnios de uma relação que já acabou, mesmo assim, nenhuma das partes tem a coragem de bater o martelo e encerrar.

Parece que foi ontem que eu comecei a trabalhar na PanAm.

Eu sou da opinião de que relações são muito preciosas para serem simplesmente abandonadas ou desfeitas, porém, se o sofrimento necessário para manter essa relação é maior do que os benefícios em mantê-la, o ideal é simplesmente terminar, antes que as duas partes se machuquem de forma irreparável, quer seja esta uma relação entre duas pessoas, ou uma relação entre a pessoa e a empresa.

E o post de hoje é, especificamente, quando a relação entre você e a sua empresa já atingiram um ponto em que o reparo já não é possível, e o melhor a fazer é procurar outro emprego. A ideia aqui é que você possa encontrar seu próximo emprego sem ter que procurar por outro em menos de seis meses porque acabou indo parar em um lugar muito pior.

Procure por bandeiras vermelhas antes da entrevista

Alguns sites como o Glassdoor.com dão aos funcionários e ex-funcionários a oportunidade de avaliar a empresa. É claro que a maioria dos funcionários sempre vai avaliar a empresa depois de ter saído e, muitas vezes, essas avaliações podem estar carregadas de sentimentos ruins, afinal, normalmente são avaliações de pessoas demitidas. Mas procure por pontos comuns nessas avaliações.

Avaliações interessantes são aquelas que mencionam sobre micro-gerenciamento, sobre falhas específicas da liderança, que falam sobre trabalhar fora do horário… ou outros fatos que possam ocorrer na empresa. Mais importante do que isso, verifique se essas avaliações abordam pontos em comum. É claro que ainda assim, tem grandes changes das avaliações serem falsas, porém, quando você encontra depoimentos espalhados ao longo do tempo falando a mesma coisa, é muito provável que tenha algum fundo de verdade nessas avaliações.

Se parece merda, tem cheiro de merda, você não precisa comer para saber que é merda…

Mais importante do que as avaliações falsas, é importante verificar as avaliações positivas. Algumas empresas colocam como parte do seu processo de onboarding a prática (que eu considero) antiética, de pedir aos funcionários que escrevam avaliações positivas nesses sites. Como o funcionário não tem experiência na empresa, normalmente os pontos positivos vêm com qualquer coisa como suporte ao trabalho remoto, bons computadores, etc. E os pontos negativos vêm como “Nada até o momento”, “Não tenho tempo de empresa suficiente para saber”… Essas empresas tentam forçar uma avaliação positiva por um motivo: trabalhar lá vai ser, provavelmente, uma experiência horrível.

Procure por bandeiras vermelhas no processo de recrutamento e seleção

Eu costumo dizer que o processo seletivo, normalmente, indica como será trabalhar na empresa. Empresas com mais de quatro entrevistas, normalmente, são empresas extremamente lentas, em que as pessoas normalmente não têm autonomia para tomar decisões que lhes competem, sem antes passar por quatro ou cinco aprovações (por isso você tem tantas entrevistas para fazer: ninguém tem coragem de bater o martelo).

A geração de hoje é muito impaciente… qual é o problema em conseguir 15 assinaturas para aprovar alguma coisa?

Empresas que demoram muito para passar o salário estimado para a vaga, normalmente, são empresas que vão pagar o mínimo que puderem para o trabalho, em vez de pagar a média do mercado. Essas empresas, normalmente, também apresentam alta rotatividade de funcionários porque, além de não pagar um salário justo, normalmente remuneram os funcionários mais competentes com aumento de trabalho, sem nunca mencionar um aumento de salário.

Empresas que te pedem para fazer inúmeros testes no processo seletivo normalmente são extremamente desorganizadas, não sabem trabalhar e não vão dar nenhuma oportunidade de crescimento. Maior que o processo seletivo, é a rotatividade de funcionários. Se a empresa não te leva a sério para ter um recrutador minimamente capaz de fazer as perguntas necessárias para a sua função e prefere deixar a avaliação nas mãos de uma inteligência artificial, por que você acredita que, uma vez na empresa, vai ser diferente? Além do que, você nem é funcionário da empresa, e já querem que você perca horas cumprindo com uma exigência deles… e sem remuneração.

Mais além, se um recrutador te pergunta se você aceitaria trabalhar em horários diferentes, durante fins de semana, ou estender a jornada de trabalho mais que o contratado, é porque você vai ter que fazer isso. Não é “talvez”, não é “muito provavelmente”: essa será a regra, não a exceção. E isso vai ser jogado na sua cara quando você reclamar, porque você foi avisado, só não achou que fosse verdade.

Você aceita trabalhar sob pressão? – Sim, eu aceito trabalhar com idiotas que não sabem se planejar nem pedir.

Algumas empresas ainda insistem em fazer perguntas muito sem sentido e não relacionadas à função, por exemplo: “Quantas janelas existem em Manhattan?”. Esses testes foram muito populares no passado, mas empresas grandes como a Amazon já acabaram abandonando porque eles não têm nenhuma base científica, muito menos são garantias para a empresa de que um funcionário que saiba responder a essas perguntas possa realmente entregar os resultados necessários.

Outro ponto muito importante é a condição de contratação: a não ser que você esteja desempregado, evite empresas que pedem a contratação imediata. Apesar de raros, existem casos em que a empresa quer que você comece no dia seguinte. Qual seria o motivo? O funcionário anterior saiu da empresa de última hora? Se for o caso, seria esse um funcionário ruim… ou uma empresa tão ruim de se trabalhar que o funcionário preferiu agarrar a primeira oportunidade que apareceu? Qualquer que seja o motivo, contratações que exigem ou fazem pressão para você começar no dia seguinte sugerem um ambiente de trabalho desorganizado e caótico.

Um teste super relevante para uma posição de CEO. Créditos da imagem

Faça sua auto-análise

A ideia desse texto é identificar pontos negativos e evitar sair de um emprego ruim para cair em outro pior. Porém, só você sabe de como está a sua situação atual no seu emprego e como é o processo seletivo da empresa que pretende te contratar. Assim como a relação empregado-empregador é uma relação similar ao matrimônio, a contratação pode ser considerada uma relação de compra e venda, onde você vende seu tempo, sua disponibilidade, conhecimentos e habilidades, em troca de um pagamento que, além do salário, pode incluir seguro de vida, plano de saúde, etc.

Toda mudança sempre gera custos. Você vai ser o cara novo e, não importa o quanto você seja experiente ou o seu grau na hierarquia, você vai ter que aprender como se trabalha no ambiente novo, sob o risco de não obter colaboração do time que já está lá antes de você, então, negocie um bom salário para cobrir esse custo e os riscos. Da mesma forma, se você está trabalhando em um lugar ruim, ficar nesse lugar também pode ter custos para a sua saúde mental e física. A regra de bolso é: por pior que esteja o lugar em que você está, dificilmente ficar aí será pior do que mudar de emprego para outra empresa que também seja ruim.

Burnout não é frescura. Aí embaixo tem o link para outro texto sobre o tema.

Por outro lado, é muito importante que você saiba o quanto você ainda pode suportar no seu emprego atual. De repente, pular da frigideira para cair no fogo pode não ser uma ideia tão ruim, especialmente para evitar um possível burnout no seu emprego atual.

Em tempo: se alguém te perguntar “Por que você quer trabalhar aqui?”, o recrutador não está nem um pouco interessado nisso. O recrutador quer saber na verdade quais habilidades você tem para oferecer para a empresa… que tipo de problemas você acredita que a empresa tenha e que você é capaz de resolver. Mas esse é outro tópico para outro texto.

Quer saber mais sobre recolocação de carreira e busca de emprego? Me escreve, ou comenta aí embaixo.

 

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