Hipnose, hipnoterapia, hipnose clínica… Afinal, o que é?

Hipnose, hipnoterapia, hipnose clínica… Afinal, o que é?

Se você chegou neste post, é porque você tem curiosidade sobre o tema. não tem como falar de nada disso sem antes desmistificar alguns mitos sobre a hipnose. E muito menos falar sobre hipnose sem antes definir o que é a hipnose. E acredite, essa definição não é tão simples assim. Algumas pessoas dirão que é uma forma de conversar com a mente subconsciente, outras pessoas dirão que é uma poderosa ferramenta investigativa, para acessar memórias que estão bloqueadas, ou inacessíveis de outra maneira. Mais ainda, algumas pessoas dirão que é uma ferramenta que te permite acessar memórias de vidas passadas. Talvez essas pessoas até possam estar corretas mas, para mim, tudo isso é besteira.

O que é hipnose?

Eu gosto bastante da definição da Associação Americana de Psicologia (APA): “o procedimento, ou o estado induzido por tal procedimento, em que a sugestão é utilizada para evocar mudanças nas sensações, percepção, cognição, emoção ou controle sobre o comportamento motor. O sujeito aparenta estar receptivo, em níveis variáveis, a sugestões para agir, sentir e se comportar de maneira diferente do que faria em um estado alerta comum” (American Psychological Association, 2018). A página ainda diz que os efeitos terapêuticos da hipnose ainda estão sendo debatidos, porém uma busca rápida no Google Acadêmico, ou no PubMed vão te dar todas as evidências que você precisa.

É importante ressaltar o uso da palavra “sugestão“. Na hipnose, sempre se utilizarão sugestões. E sugestões podem ser aceitas ou não, ou podem ser aceitas de uma forma diferente da qual a pessoa que deu a sugestão pensou. Um exemplo de sugestão do dia a dia pode ser, perto do meio dia, você falar para alguém: “Vamos comer alguma coisa?”, e essa pessoa pode querer almoçar, ou pode simplesmente comer uma fruta. Ou, mais simples ainda, a pessoa pode simplesmente te dizer: “Não.”. E as três respostas são válidas porque se trata de uma sugestão e não de uma ordem.

Mas se é só uma sugestão, porque funciona?

Funciona pelo óbvio: você quer que a sugestão funcione.

Mas não é só isso. Tipicamente, no contexto terapêutico, as induções hipnóticas trabalham com o relaxamento (também existem as induções que trabalham com tensão, e também funcionam muito bem), o que prepara a pessoa a estar mais propensa a aceitar as sugestões, além do fato de que você assume que a pessoa que está fazendo essa hipnose está ali para te ajudar, não para te prejudicar.

Se terapia fosse fácil, se chamaria Cup Noodles (eu poderia falar do miojo, mas não sei como a tradução automática fai vicar)

A ritualística da indução hipnótica também promove o engajamento do paciente em seguir as instruções do terapeuta e, pouco a pouco, abandonar a atenção em outros estímulos do ambiente (visuais, auditivos, ou cinestésicos) e focar sua atenção exclusivamente no que se fala em terapia, estimulando a imaginação e tornando as experiências mais vívidas.

O que a hipnose não é?

Como eu já disse lá no começo, sobre o que eu acho besteira, a hipnose não é uma ferramenta investigativa. A ideia de que existe um subconsciente que consegue armazenar todas as nossas memórias e que essas memórias podem ser acessadas através da hipnose é fantasiosa. Cada vez que nos lembramos de algo, reinterpretamos esse algo à luz do que conhecemos no presente. E gravamos essa memória com essa nova interpretação no nosso cérebro, deixando essa memória um pouco mais diferente do que realmente aconteceu lá atrás.

Pensando nisso, podemos afirmar que, como diz meu professor Alberto Dell’Isola, “todas as nossas memórias, em certa medida, são falsas, mas algumas podem ser menos falsas do que as outras“. E não vai ser a hipnose que vai esclarecer isso. O motivo é simples: como a hipnose trabalha com sugestões e engajamento, se uma pessoa diz que quer se lembrar de algo que aconteceu há 15 anos atrás, e essa pessoa desconfia que aconteceu um determinado fato, na hipnose, essa pessoa vai ter a resposta do jeito que ela quer. Do ponto de vista clínico, não importa se uma memória é verdadeira ou falsa, a ressignificação pode acontecer do mesmo jeito. Mas é importante deixar claro que a hipnose não é uma ferramenta indicada para investigação.

Apesar de ser modinha falar mal de Freud, ele já sabia desde o início do século passado que a hipnose gera muitas memórias falsas… mas tem gente que insiste em dizer que usa para falar direto com o “subconsciente”…

Outra coisa muito importante que precisa ser dita é que a hipnose não é um tipo de terapia. Isso mesmo. E antes que você se pergunte: “Mas e a hipnoterapia?“. Hipnoterapia é o uso da hipnose na psicoterapia. E hipnose clínica é a mesma coisa. Seja no uso do controle para dor, seja para trabalhar um trauma, o terapeuta tem que saber qual é o marco teórico da psicologia que está sendo usado. E sim, você pode perguntar isso para o seu terapeuta caso esteja passando por tratamento agora.

Vale a pena procurar hipnoterapia?

A resposta curta é: sim. Como eu já escrevi aí em cima, uma busca rápida no Google Acadêmico ou no PubMed vão te dar muitas evidências que a hipnoterapia funciona. Se você achar que a hipnose não é para você, não tem problema. O seu terapeuta deve ser capaz de tratar você sem hipnose, afinal, a hipnose é só uma ferramenta.

Todo mundo deveria procurar terapia? Muitos psicólogos vão dizer que sim. Eu vou dizer que não. Porém, eu acredito que ninguém deveria sentir vergonha de procurar terapia quando sinta que precisa. E como saber se você precisa de terapia? Bom, se você tinha essa dúvida antes de ler essa pergunta, muito provavelmente você precisa de terapia. Se você não tinha, faça uma auto-análise de como foram seus últimos seis meses em vários aspectos da sua vida. Se você acha que algo está pior do que estava antes, eu recomendo que você busque ajuda profissional.

Como você prefere acordar todos os dias?

Como saber qual profissional eu procuro?

Procure por recomendações. Se você conhece alguém que faz ou fez terapia ultimamente, pergunte a essa pessoa como está sendo a terapia e se ela pode recomendar o profissional. Se você não conhece, procure por profissionais certificados e que produzam conteúdo que você goste. Apesar de existirem vários hipnoterapeutas muito bons que não são graduados em psicologia, se você não conhece o trabalho da pessoa, eu recomendo procurar alguém que tenha essa graduação.

Não caia em contos de “reprogramação mental”, “cura rápida em uma sessão”, “terapias quânticas”, ou qualquer outra proposta que pareça muito boa. Da mesma forma, não procure profissionais que tenham o preço como principal vantagem competitiva. Quer dizer que um profissional que cobre barato é ruim? Não. Mas estamos falando da sua saúde mental, de alguém que vai te dizer coisas que você quer e precisa ouvir. Você vai querer pechinchar nessa hora? Procure um profissional que tenha um orçamento que cabe no seu bolso, mas que seja sério, trabalhe com teorias que tenham pelo menos eficácia comprovada e que tenham mais que só o preço para oferecer.

Sai com essa porcaria de pseudociência pra lá!

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