Quando o medo passa a ser um problema
Faz pouco tempo, eu escrevi sobre a ansiedade, e falei sobre como a ansiedade não é realmente um problema, mas uma resposta natural do organismo. Porém, bem no início do texto, eu falo sobre os transtornos de ansiedade. O tema de hoje são as fobias, que sim, são um transtorno de ansiedade.
Um transtorno de ansiedade é, basicamente, cualquer condição em que o indivíduo tenha uma resposta ansiosa quando não deveria ter. “Ah, mas eu tenho medo…“, sim. Mas medo não é fobia.
Mas então… o que é a fobia?
Apesar do termo “fobia” vir do grego phobos, que significa medo, hoje entende-se como fobia toda aquela resposta irracional a um estímulo fóbico. E, como todo transtorno, tem que causar prejuízo para a pessoa. Por exemplo: uma pessoa pode ter medo de barata, e até fazer escândalo quando vê uma. Porém, a partir do momento que a pessoa começa a evitar a ir em lugares pela possibilidade de ter que encontrar uma barata, ou deixa de ver um filme porque talvez apareçam baratas no filme, estamos falando de uma fobia.

E não me levem a mal. A chance de alguém medroso sobreviver, normalmente, é muito maior do que a de alguém corajoso. Afinal, o medroso tende a se conservar muito mais e se expor muito menos ao perigo do que alguém corajoso. Porém, a partir do momento que esse medo cresce absurdamente e passa a influenciar na qualidade de vida da pessoa, é porque chegou a hora de trabalhar essas questões.
Por exemplo, algumas pessoas têm medo de cães, porque eles latem e rosnam. Outras pessoas têm medo de gatos, porque eles te arranham e te mordem do nada. Eu tenho medo de ursos, porque eles arrancam braços. Mas convenhamos, sendo brasileiro e morando em Guadalajara, quais seriam as chances de que eu encontre um urso no meu dia a dia? Eu também não deixo de assistir filmes porque podem aparecer ursos neles. Então, tudo certo…
Qual a melhor forma de tratar a fobia?
Analisando a fobia sob a ótica da análise do comportamento, a resposta de ansiedade que temos quando vemos aquilo a que temos fobia fica cada vez mais forte quando fugimos daquele estímulo aversivo. Eu explico: você vê uma barata. Você tem uma resposta de ansiedade porque ali tem alguma coisa que pode te causar dano. Você sai correndo gritando. A barata desaparece. Você não sofreu nenhum dano e o perigo foi embora.

Em outras palavras, essa estratégia funcionou. Então… por que mudar? Parece ridículo, mas é assim que as coisas são codificadas no nosso cérebro. Aí você talvez queira rebater: “Mas se eu não fugir, minha ansiedade vai ficar insuportável! E essa sensação é muito ruim!” Sim, é verdade. Porém já diziam os antigos: “A melhor forma para vencer um medo é enfrentando esse medo”.
Não quer dizer que, se você tem medo de cachorros, você vai correndo na frente do primeiro cão com a boca espumando e dar um abraço ele. Na psicologia, trabalhamos com dois conceitos principais para trabalhar fobias: a dessensibilização sistemática e a exposição.
As duas técnicas funcionam de maneira parecida: primeiro é feita uma lista de elementos e situações e o quanto esses elementos e situações causam ansiedade. Na sequência, do mais fraco ao mais forte, a pessoa é exposta a esses elementos e situações até que a ansiedade esteja em um nível mais aceitável, e movemos ao seguinte nível. O recomendável é que essas exposições sejam feitas inicialmente em imaginação e, em algum momento, seja feita também a exposição ao estímulo real.
A diferença da dessensibilização sistemática para a exposição é que, na dessensibilização sistemática, a pessoa é treinada em condutas incompatíveis com a fobia, quer dizer: a pessoa aprende técnicas de relaxamento e essas técnicas são praticadas quando a pessoa está em frente ao elemento fóbico, assim, o cérebro se acostuma a disparar essas sensações de tranquilidade sempre que se deparar com aquela situação ruim.

Já na exposição, a pessoa fica um tempo na frente do estímulo fóbico até essa ansiedade baixar por si só. Quer dizer: se você tem fobia de cachorros, eventualmente você vai ficar na frente de um cachorro, vai sentir a ansiedade chegar, mas vai ficar ali até essa ansiedade baixar sozinha. E essa técnica é repetida até o desconforto deixar de existir.
Como eu trato as fobias?
Como eu já mencionei antes, a primeira coisa, antes da escala, é definir o objetivo terapêutico. Se a pessoa tem fobia de baratas, não necessariamente essa pessoa queira, ao final do tratamento, ser amiga das baratas e dividir a comida com elas. Talvez a pessoa só queira ser capaz de matar uma barata quando enfrentar uma. Da mesma forma, a pessoa que tem medo de cachorros talvez não queira adotar um, mas queira só não ficar desesperada quando vê um cachorro andando do lado dela na rua.
A segunda coisa a se fazer é criar uma escala. Por exemplo, se a pessoa tem medo de cachorros, listamos algumas situações e quanto isso desperta de ansiedade na pessoa, desde ver uma foto de um cachorro no computador, passando por imaginar-se do lado de um cachorro, ou ainda acariciando um cão de grande porte.

Depois, trabalho ensinando a pessoa alguns mecanismos de controle de ansiedade como a respiração diafragmática, técnicas de redirecionamento de atenção e relaxamento. Essas técnicas serão úteis para trabalhar a dessensibilização sistemática, inicialmente em imaginação, a qual pode ser feita, inicialmente com ou sem hipnose.
Aqui, entre sessões, peço à pessoa que treine as técnicas de controle de ansiedade e, eventualmente, trabalho a exposição da pessoa ao estímulo real. A pessoa é livre para utilizar ou não os mecanismos de relaxamento e controle de ansiedade neste caso. Este algoritmo se repete até que a pessoa consiga atingir o seu objetivo terapêutico.
E aí? Você tem alguma fobia ou algum medo que gostaria de tratar? Me manda um email no luisborin@luisborin.org ou WhatsApp no +52 33 2725 9698.

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